Em estudo recém-divulgado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID – mostra que, apesar do recente crescimento econômico e das políticas destinadas a reduzir as desigualdades, as diferenças salariais relacionadas a gênero e etnia continuam sendo significativas nos países latino-americanos.
O estudo promoveu a análise de informações domiciliares provenientes de 18 países da região, constatando que as mulheres, os/as negros/as e os/as indígenas recebem salários inferiores aos dos homens brancos na América Latina. As conclusões são parte de uma série de estudos sobre as diferenças salariais em diversos países da América Latina e estão presentes no relatório intitulado “Novo século, velhas desigualdades: diferenças salariais de gênero e etnia na América Latina”, escrito pelos economistas do BID Hugo Ñopo, Juan Pablo Atal e Natalia Winder.
A pesquisa faz uma comparação entre os salários de indivíduos com as mesmas características demográficas e de emprego. A análise das disparidades salariais se dá, por um lado, por meio da avaliação da diferença de salário entre essas pessoas, baseada em seu gênero ou etnia, e, por outro, da análise da possibilidade desses grupos preteridos terem acesso a combinações de características que lhes permitiriam ganhar um maior salário no mercado de trabalho.
Disparidades salariais de gênero
As mulheres latino-americanas ganham menos, mesmo que possuam um maior nível de instrução. Por meio de comparação simples dos salários médios, foi constatado que os homens ganham 10% a mais que as mulheres. Já quando a comparação envolve homens e mulheres com a mesma idade e nível de instrução, essa diferença sobe para 17%. Da mesma forma, a população indígena e negra ganha em média 28% menos que a população branca de mesma idade e nível de instrução. Uma das conclusões do estudo é de que a diferença salarial étnica poderia ser reduzida em quase um quarto com a melhora dos níveis de instrução dessa população.
De acordo com a pesquisa, os homens ganham mais que as mulheres em todas as faixas de idade, níveis de instrução, tipo de emprego ou de empresa. A disparidade é menor nas áreas rurais, em que as mulheres ganham, em média, o mesmo que os homens. A menor diferença salarial relacionada a gênero está na faixa mais jovem da população que possui nível universitário, sendo a defasagem mais baixa entre trabalhadores formais e mais alta entre aqueles que trabalham em pequenas empresas.
As diferenças salariais variam muito também entre os 18 países pesquisados. O Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, quase o dobro da média da região (17,2%), enquanto na Bolívia a diferença é muito pequena. O resultado é o mesmo no que diz respeito à disparidade por raça e etnia, que chega também a 30%.
O documento traz ainda algumas recomendações para reduzir as disparidades salariais nos países latino-americanos. Por parte dos governos, a implementação de políticas no sentido de aumentar o nível educacional da população minoritária, além da implementação de um maior número de creches, o que permitiria às mulheres mais dedicação à sua vida profissional. Já no âmbito familiar, uma divisão de tarefas mais igualitária, com os pais divindo a criação dos/as filhos/as, o que daria às mulheres a possibilidade de manter suas carreiras.
Confira aqui a pesquisa na íntegra (em inglês).
Matéria publicada por Observatório de Gênero